Meu pai tem mania de conversar com a televisão, ás vezes eu estou escrevendo alguma coisa, interagindo na internet ou tentando ler e o escuto conversando com a TV, brigando com os vilões das novelas e até tentando avisar a algum mocinho de algum filme quando o bandido quer feri-lo. Perdí as contas de quantas vezes fui atraído pra frente da TV por conta de seus comentários que acabavam por instigar a minha curiosidade.- Olha pra trás! Olha pra trás! Lá vem o assassino! Mas que merda burro. Olha pra trás seu demente!Isso é o mínimo que escuto da sua “narração” num filme de suspense.Ele comenta, aconselha, grita, ri, se emociona e até se estressa com a TV.O papo do meu pai com a telinha eu acredito que talvez seja uma relutância contra essa síndrome de silêncio crônico que assola toda a humanidade. E que o fato do conversar dele, mesmo sem resposta, quem sabe seja apenas uma forma de não se calar diante dessa tecnologia que nos torna mais próximos das coisas e ao mesmo tempo distantes de hábitos humanos tão imprescindíveis como, por exemplo, o diálogo.Comecei a pensar sobre isso, pois daqui do meu quarto falo com o mundo inteiro sem dizer uma palavra através do computador. Estou só e calado, mesmo estando entre todas aquelas pessoas.Olhando por uma ótica cultural, me vem à cabeça que meu pai é da época em que se dava valor a uma boa prosa, aos causos e a pilhéria. Coisas que a televisão sepultou completamente da família moderna. Esses hábitos saudáveis que serviam como instrumentos de transferência de costumes foram substituídos pelas conversas instantâneas da internet. Se você reparar bem, verá que quase todo o povo mais velho assiste TV comentando e digo mais: enquanto a gente não parar de “teclar” um pouco e ir bater um papo com nossos “coroas”, eles vão continuar falando com a TV, quando não, vão acabar falando sozinhos.Além do mais, talvez ele ache até patético ficar calado, somente como simples telespectador e queira então, mesmo que desamparado, interagir de alguma forma com a caixa mágica que invade sua casa sem pedir licença. A partir de hoje tomei uma decisão, vou conversar mais com meu velho, e já aprendi com ele; não deixo mais o moço do jornal sem respostas. Deu “boa noite”, eu respondo.
Roberto Kuelho.
0 comentários:
Postar um comentário